Maria, quem és tu?

Ora pois que hoje à tarde cheguei ao carro do meu namorado, uns belos vinte minutos atrasada (atenção que estar jeitosa para o homem demora o seu tempo) e tinha à minha espera, no banco do pendura, um ramo de rosas com um anel escondido. Não, não me pediu em casamento, mas verdade seja dita que eu nestas coisas tenho uma sorte do caraças. Não há melhor do que o meu homem a oferecer ramos de flores e é com cada ramo, que uma pessoa até fica de boca aberta. Pensei eu que já tinha ganho o dia (e já tinha), mas este homem, que é uma autêntica caixinha de surpresas ainda me conseguiu surpreender e oferecer uns calções, uma camisola e um casaco para correr giros que só eles. Sim, porque eu agora sou uma verdadeira atleta e correr com estilo é outra coisa. Uma pessoa até corre com mais vontade. Por esta altura eu estava completamente derretida. Está claro que as prendas não são o mais importante de uma relacão, mas eu não acredito que haja alguém neste mundo que não goste de receber uns miminhos de vez em quando. Mas o verdadeiro truque final, a cartada final ainda estava para vir. O homem pediu—me para fechar os olhos muito bem fechadinhos e quando os abri tinha ao meu colo uns tênis da Adidas que eu já andava a namorar desde o tempo da Maria Caxuxa. Nesta altura caiu—me tudo. Bolas, que desta é que eu não estava à espera. Eu só dava pulinhos de felicidade e ao mesmo tempo só me apetecia esconder num buraco porque ainda não lhe tinha oferecido nenhum presente. Isto de trocar prendas de Natal durante os saldos tem as suas vantagens, eu que o diga. Atrevam—se a dizer que eu não tenho o melhor namorado do mundo. Vocês atrevam—se.

Eu quero acreditar que o Mundo não está perdido. Eu quero continuar a ter esperança no Mundo e nas Pessoas. Mas em dias como o de hoje é difícil. É muito difícil. A crueldade e a facilidade com que se mata um ser—humano é chocante e impressionante. Dias como o de hoje fazem—me ser menos crente.

Assim de repente não me lembro de nenhuma maneira melhor de começar o ano, do que com uma intoxicação alimentar. Tem sido uma limpeza ao organismo que vocês nem imaginam (e ainda bem). Aposto que estão cheios de inveja. Queriam vocês ter um inicio de ano tão bom como o meu.

Hoje, pela primeira vez na vida, experimentei lagosta. E sabem que mais? Minha rica sapateira, que custa cinco vezes menos e sabe bem melhor. Irra que tão depressa não me apanham de lagosta na boca. Volta sapateira, estás mais que perdoada.

E que tal esse primeiro dia de 2015, meus xuxus? Uma loucura, imagino eu. Pois que eu estou tão bem comportadinha, que hoje disse não ao sofá e às rabanadas e fui até Belém correr com o namorado. Soube—me pela vida. Correr junto ao Rio Tejo é outra coisa. As centenas de pessoas que passeavam, o pôr—do—sol fantástico, as luzes de Natal, o frio, a fonte iluminada, a Torre de Belém, o Padrão dos Descobrimentos, os Jerónimos e a companhia fizeram da minha tarde, uma tarde maravilhosa. Isto é a prova de que até a correr e a suar até mais não, podemos ser felizes. Quem diria!